O MINISTRO DAS FINANÇAS ENGANA OS PORTUGUESES E
RELATÓRIO DO OE-2012 CONFIRMA CRESCIMENTO ANÉMICO DE PORTUGAL ATÉ 2050
O ministro das
Finanças, Vítor Gaspar, quando é confrontado com a questão de que as medidas
que está a tomar são contraccionistas, e levarão inevitavelmente o país à
recessão económica papagueia, de uma forma monocórdica, aquilo que chama “Agenda de transformação estrutural” que,
no fundo, se resume ao seguinte: liberalização dos preços; desregulamentação
das leis do trabalho; maior facilitação em despedir e diminuição das
indemnizações por despedimento; privatização das empresas públicas e sua venda
a estrangeiros. Quem conheça minimamente a situação da economia portuguesa sabe
bem que um programa desta natureza apenas agravará muito mais a sua situação, e
tornará a nossa economia mais dependente do estrangeiro. No entanto, apesar
dessa evidência, o ministro das Finanças promete o crescimento económico já a
partir de 2012 e a prosperidade para os portugueses. No “Documento de
Estratégia Orçamental para 2011-2015, por ex., na pág. 9, ele próprio escreve
textualmente o seguinte: “Quero
concluir fazendo um ponto que julgo de grande importância. A consolidação
orçamental e a diminuição ordeira do endividamento são incontornáveis. São
condições necessárias para retomar uma trajetória de prosperidade crescente em
Portugal”..
No entanto,
nem ele próprio acredita no que o diz e escreve. No Relatório do Orçamento do
Estado para 2012, que acompanha a proposta de Lei do OE-2012, na pág. 240, num
anexo denominado “Relatório sobre a
Sustentabilidade Financeira da Segurança Social”, encontra-se um gráfico,
que a seguir se apresenta, com a
previsão do crescimento da economia portuguesa (PIB) para o período
2011-2050, elaborada pelo governo anterior de Sócrates, que constava do OE-2011
(as barras a cinzento), e uma outra
previsão feita pelo governo de Vítor
Gaspar (as barras a azul). Esse gráfico, elaborado pelo governo desmente tudo
aquilo que Vítor Gaspar anda a dizer continuamente. O próprio ministro
desmente-se a si próprio.
Gráfico
1
Taxas
de crescimento da economia portuguesa (PIB) prevista pelo
governo
de Passos Coelho para o período 2011-2050
FONTE : Relatório sobre a Sustentabilidade Financeira da Segurança Social anexo ao Relatório do Orçamento do Estado para 2012 (pág. 240)
Como revela o
gráfico 1, o governo de Passos Coelho prevê que a economia portuguesa (PIB)
cresça, em média, 0,4% no período 2011-2015; 1,1% no período 2016-2020; 1,8% no
período 2021-30; 1,5% no período 2031-40; e 1,2% no período 2041-50. A média destas taxas dá uma taxa de
crescimento do PIB de apenas 1,2% por anos para o período 2011-2050. E como a
experiência já mostrou a realidade é sempre pior do que as previsões do governo
por isso o crescimento será certamente inferior ao previsto pelo governo.
Mas mesmo com
uma taxa média de crescimento no período 2011-2050 de apenas 1,2% ao ano, como
é que se pode falar de uma “trajectória
de prosperidade crescente em Portugal”? Se existisse um mínimo de
honestidade intelectual afirmações como aquelas, que objectivamente visam
manipular a opinião pública e enganar os portugueses não podiam nem deviam ser
feitas.
Para que se
possa ficar com uma ideia clara das consequências destas taxas de crescimento
económico, basta analisar os seus efeitos sobre o desemprego, que é uma
dimensão extremamente importante para todos os portugueses. A experiencia
mostra que, em Portugal, o desemprego aumenta de uma forma rápida quando a taxa
de crescimento económico (PIB) diminui, e continua a crescer enquanto a taxa de
crescimento do PIB se mantém muito baixa, como mostra o gráfico seguinte
construído com dados oficiais referentes às taxas decrescimento do PIB e do
desemprego em Portugal nos últimos 16 anos (1996-2012). .
Gráfico 2
Relação entre o crescimento económico (PIB) e o
desemprego em Portugal
FONTE: 1996-2010: Eurostat. 2011-2012:
PIB: Eurostat; Taxa de desemprego: Relatório OE-2012
Como revela o gráfico, em Portugal a taxa de desemprego aumenta logo que o crescimento económico (PIB) diminua abaixo do 2% (isso aconteceu a partir de 2001 como mostra o gráfico). Só com um crescimento superior a 2% é que a taxa de desemprego começa a diminuir.
E o que prevê
o ministro das Finanças e o próprio governo de Passos Coelho para Portugal no
período 2011-2050? Um crescimento
económico que, em média, rondará apenas 1,2% por ano. E como mostra a
experiencia, que se encontra plasmada no gráfico 2 construído com dados
oficiais, com as taxas de crescimento como as previstas pelo actual governo
para o período 2011-2050, a
taxa de desemprego em Portugal, que já atinge valores inaceitáveis, continuará
a aumentar de uma forma continua. É esta a “trajectória de prosperidade
crescente” de que fala o ministro das Finanças, que certamente a política de
destruição da economia e da sociedade portuguesa levada a cabo pelo actual
governo inevitavelmente conduzirá, sendo até muito provável que a situação no
futuro, a continuar esta politica, ainda seja mais grave que os dados oficiais
do gráfico 2 mostram.
O EMPOBRECIMENTO CONTINUADO DO PAÍS E O AUMENTO DA
MISÉRIA EM PORTUGAL
Apesar do próprio governo prever no Relatório do Orçamento do Estado para 2012 um agravamento da taxa de desemprego (12,5% em 2011, e 13,4% em 2012), mesmo assim a verba constante da proposta do Orçamento da Segurança Social para 2012 para pagar subsídios de desemprego não aumenta, até diminui. De acordo com o quadro III.3.23, que consta da pág. 93 do Relatório do OE-2012, o governo estima gastar, em 2011, com o pagamento de subsídios de desemprego 2.067,35 milhões € e, em 2012, apenas 2.046,36 milhões €. Portanto, o desemprego vai aumentar segundo o próprio governo, mas o apoio aos desempregados diminui. E isto é ainda mais grave, se se tiver presente que o numero oficial de desempregados já é superior a 696 mil segundo o INE, mas o numero de desempregados que, em Setembro de 2011, recebiam subsidio de desemprego eram apenas 296.336 segundo a Segurança Social, o que correspondia a uma taxa de cobertura de somente 42,6%, portanto mais de metade do número oficial de desempregados já não recebe subsidio de desemprego. E recorde-se que o desemprego real (1.018,5 mil calculado com base nos dados do INE) é ainda muito superior ao desemprego oficial. Por outro lado, segundo também o INE, no fim de 2009 (e a situação actual ainda é mais grave), mais de 43 em cada 100 portugueses (4.600.000 no país) cairiam no limiar da pobreza se não existissem as “transferências sociais”. Ao aumentar o desemprego como é previsível se actual politica continuar, e ao reduzir o numero de desempregados a receber o subsídio de desemprego, ou seja, as transferências sociais, como tem acontecido até aqui (entre Jan-2010 e Set-2011, passou de 370.658 para 296.336, ou seja, diminuiu em 74.322), e como o governo de Passos Coelho tenciona continuar a fazer, mas de uma forma mais drástica para reduzir o défice orçamental, é inevitável que a miséria aumentará.
É cada vez
mais claro que as politicas erradas impostas a nível da U.E. estão a conduzir
esta, e os países que a integram, ao declínio e ao aumento da pobreza. É já
altura de inverter a situação.
Eugénio Rosa ,
Economista, 6.11.2012
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